quarta-feira, setembro 13, 2006

TURISMO: MARROCOS

Transcrevo aqui uma reportagem que escrevi para o caderno de turismo do Jornal A Gazeta .

Sergio Denicoli

Visitar o Marrocos é mergulhar em um mundo de cores, cheiros, sabores e mistérios milenares. Por ser o país africano mais próximo da Europa – separado da Espanha pelo Estreito de Gibraltar – sempre foi uma porta de entrada do Ocidente para o Oriente e testemunhou grandes momentos da história do mundo. Suas paisagens revelam traços de lutas e conquistas. Enfim, é impossível falar do país sem ressaltar seu passado.

A região já pertenceu aos fenícios, ao Império Romano e ao Império Bizantino e depois foi dominada pelos árabes, que introduziram a religião muçulmana. Na época das grandes navegações foi invadida por espanhóis e portugueses e, no século XX, foi dominada pelos franceses. O país tornou-se independente apenas em 1956, quando foi instaurado um regime monárquico. Hoje é administrado pelo Rei Mohammed VI, que tem sua foto espalhada em todo canto, no comércio, em prédios públicos ou residências, o que torna sua imagem um verdadeiro cartão-postal.

Apesar de o Marrocos ter sido dominado por muitas etnias, os povos considerados nativos são os berberes que ainda preservam laços tribais e têm uma língua própria. Mas a maioria também fala francês e árabe - idiomas ensinados nas escolas.

Por conta das constantes invasões, os berberes se refugiaram nas montanhas e, hoje, vivem camuflados em casas que se misturam às paisagens áridas do país. Algumas dessas residências, conhecidas como kasbahs, espécies de fortificações feitas de argila misturada com água e palha, podem ser visitadas – a atividade é uma fonte de renda a mais para muitas famílias.

Também é dos berberes a tradição de pintar o corpo com hena, uma arte que fascina os visitantes. A crença diz que os desenhos afastam os espíritos do mal. Em dias de festa as mulheres pintam as mãos e os pés.

Outra tradição entre esses povos é a confecção dos tapetes. As peças são feitas manualmente pelas mulheres e depois comercializadas pelos homens. Conhecidos em todo mundo, os tapetes marroquinos são tingidos com pigmentos encontrados na natureza. As estampas representam o cotidiano da população.

Muitas famílias se unem em cooperativas e algumas dessas associações chegam a empregar três mil mulheres. Os tapetes estão à venda por toda parte. Entre os berberes, tanto as mulheres quanto os homens têm suas funções definidas e todos trabalham.

Pechinchar é necessário

As principais cidades do Marrocos são Rebez, Casablanca, Tânger, Fêz e Marrakech. Cada uma tem uma cor específica e nenhum prédio pode ser pintado em outra tonalidade. Casablanca, por exemplo, é toda branca. Já Marrakech é ocre.

As cidades são divididas em duas: as medinas – a parte antiga localizada dentro de uma área murada e protegida, que mantém ruas estreitas e sinuosas – e a parte nova, que foi construída além dos muros.

Dentro das medinas estão os famosos mercados, chamados souks. É onde se encontra todo tipo de produtos, como ervas medicinais, confecções e ouro. Nada tem um preço fixo. A regra é pechinchar. A pessoa dá o preço que acha justo e negocia com o comerciante. Uma boa dica é dar um valor mais baixo do que você pagaria, para assim poder chegar a um bom acordo.

Um dos maiores souks do país fica nos arredores da Praça Jemaa el-Fna, em Marrakech. Considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco, no século XIX a praça era o local onde bandidos eram decapitados e tinham as cabeças penduradas para servir de exemplo. Hoje abriga uma grande feira, onde se encontram encantadores de serpentes, artistas, barracas que vendem comidas típicas e onde o turista entra em êxtase com cheiros e temperos carregados de especiarias.

Vale a pena ficar algumas horas sentado em uma das barracas observando as mulheres vestidas com suas burkas e apenas os olhos à mostra, os homens com seus chapéus típicos, as ruas confusas, onde circulam carros, charretes, cavalos, bicicletas e pessoas. Aproveite para tomar um suco de laranja feito na hora que é uma tradição na praça. A venda de bebidas alcóolicas é proibida.

Além de toda história que as cidades marroquinas carregam, o país é dotado de uma geografia que apresenta paisagens que vão do deserto a montanhas cobertas de gelo, com estações de esqui. Esse aparente paradoxo acontece por conta da Cordilheira Atlas, com picos de mais de 4 mil metros.

Nesta altura do ano as estações de esqui estão fechadas devido ao verão, mas é a uma ótima época para fazer um dos passeios mais interessantes para quem visita o Marrocos: uma excursão até o deserto. Para isso basta procurar nos pontos turísticos alguma das diversas agências locais que fornecem o passeio.

Saindo de Marrakech a viagem é longa e dura três dias. Custa aproximadamente US$ 50 por pessoa, com direito a uma noite em um hotel nas montanhas e outra no deserto, além do café da manhã. Guias levam os turistas em vãs pelas estradas entre as montanhas até chegar ao deserto.

No caminho a paisagem é árida mas deslumbra pela magnitude. Imensas cadeias de pedras, picos de terra vermelha e oásis surpreendentes onde o verde brota em meio ao nada. Eles são utilizados coletivamente para a agricultura, por serem os únicos locais onde há água no ambiente desértico.

Chegando ao deserto o meio de transporte passa a ser os camelos e os guias nos conduzem quase uma hora entre as gigantescas dunas. Nos locais de paragem existem tendas. Os guias servem um jantar a luz de velas e promovem um entrosamento entre os membros da excursão, que geralmente são de diversas nacionalidades. Os grupos em geral são de aproximadamente 10 pessoas.

Após o jantar é hora de desfrutar de uma paz que leva a experiências quase esotéricas. Só é possível ouvir o barulho do vento e o céu parece conter todas as estrelas possíveis. A cada instante vê-se uma estrela cadente. É um bom momento para um viagem interior, para colocar os pensamentos em ordem e se deixar levar por uma energia muito forte.

Nos primeiros raios da manhã o guia nos chama para voltar e seguimos o caminho agraciados por um nascer do sol esplendoroso, que nos deixa com vontade de querer voltar sempre. É mágico o Marrocos.

Cenário de Casablanca

O Marrocos foi o cenário de um dos maiores sucessos do cinema: o clássico Casablanca. O filme, totalmente rodado nos estúdios de Hollywood, tem como pano de fundo uma etapa da história do país durante a II Guerra Mundial, quando foi um importante ponto de fuga. Quem queria deixar os países envolvidos no conflito partia clandestinamente para o Marrocos e depois se deslocava até Portugal, que estava fora da guerra. Atualmente, é ainda uma importante locação hollywoodiana. Entre os filmes já rodados lá estão "Alexandre – o Grande", "Guerra nas Estrelas", "Reino dos Céus", "O Gladiador" e "Indiana Jones".

Quando ir
No litoral, o tempo permanece bom praticamente o ano todo. Ao Norte, as temperaturas caem e o clima é mais úmido. Nas terras baixas, os meses mais frescos vão de outubro a abril, quando as temperaturas oscilam entre 30ºC (durante o dia) e 15ºC (à noite). No inverno, as regiões mais altas são bem frias e nas montanhas é possível praticar ski de dezembro a março. Para praticar trekking, os melhores meses são entre junho e setembro.

Como chegar
O país possui aeroportos internacionais em Casablanca, Tanger e Agadir.

Transporte
Para quem tem pouco tempo, os vôos locais entre as cidades são a melhor opção, mas prepare o bolso. Outra dica são os trens (o sistema ferroviário do país é um dos melhores da África e liga as principais cidades). Os ônibus também são uma boa opção, assim como alugar um carro (os postos de gasolina são fáceis de encontrar, mas as estradas estão infestadas de policiais e pedágios).

Informações
População – 31 milhões de habitantes
Religião oficial – islamismo
Moeda – dirham (US$ valem 8,6 dirham)
Língua oficial – árabe
Capital – Rabat (658 mil habitantes)
Documentos – passaporte com validade mínima de 6 meses

Anote
Portal do país (em espanhol, inglês, francês e árabe) – www.maroc.ma
Agência em Marrakech que oferece excursão para o deserto – www.saharaexpe.ma

Costumes
No Marrocos, a entrada nas mesquitas e nos lugares sagrados está proibida aos não muçulmanos.

Quando convidado a partilhar da refeição familiar, deve-se lavar simbolicamente as mãos, usando o gomil. A refeição, normalmente um prato típico do país, começará depois do dono da casa ter pronunciado o "bismillah", um louvor a Deus.

Evite roupas curtas ou decotadas (especialmente as mulheres).

Coma sempre com a mão direita.

Aceite sempre o chá de hortelã, é um gesto de hospitalidade.

No período do Ramadan, evite beber, comer e fumar em público durante o dia.

Sempre peça autorização quando quiser fotografar uma pessoa.

O que comprar
Rabat – bordados e tapetes.

Casablanca – artigos de couro e tapetes de Mediouna.

Fez – é a capital do artesanato, conhecida pelos famosos barros azuis, pratos de cobre e pelo trabalho do couro.

Marrakesh – o trabalho do couro, principalmente os sapatos tipo "babuchas", feitos artesanalmente. A região também é famosa pela especiarias e pela qualidade dos tapetes berberes.

Essaouira – jóias, e cestos.

Não deixe de visitar
Rabat – a atração mais famosa da cidade é a Tour Hassan (Torre de Hassan); o Mausoléu de Mohammed V (o pai do atual rei do país); a Kasbah dos Oudaias, um forte com vista panorâmica do Atlântico (abriga um palácio que hoje é um museu de arte tradicional marroquina).

Casablanca – é a maior cidade e centro industrial do Marrocos. A Medina, ou bairro antigo, e a Mesquita de Hassan II, uma das maiores do mundo, merecem uma visita mais longa. Na Place Mohammed V, encontram-se os mais belos exemplos da arquitetura mourisca no país.

Marrakesh – fundada no século XI, a cidade fascina pelo contraste de suas cores (o vermelho das casas, o verde das palmeiras, e o branco das montanhas do Alto Atlas). O seu coração é a Place Djemaa el-Fna, com barracas de comida e malabaristas, contadores de histórias, encantadores de serpentes, mágicos e acrobatas. Entre as atrações do bairro antigo, destaque para o anexo da mesquita de Koubba Ba'adiyn; a magnífica mesquita de Koutoubia; e o Palais Dar Si Said (museu de arte marroquina).

Fez – é a mais antiga das cidades imperiais. A medina de Fez el-Bali (a Antiga Fez) é uma das melhores atrações do Marrocos. Na cidade velha, encontra-se a Medersa Bou Inania, universidade de Teologia construída em 1350, a mais antiga do mundo árabe-islâmico. Próximo fica o souk de hena, mercado especializado na tinta extraída da planta que as mulheres usam para colorir o cabelo e tatuar as mãos e os pés. A poucos metros da cidade murada fica Fez el-Jdid, que abriga a comunidade judaica.

Tangier – no centro da cidade, o Petit Socco (pequeno souk) é uma das principais atrações. A kasbah é outro local que atrai visitantes e abriga o museu Dar el-Makhzen, antigo palácio do sultão, do século XVII.